Massacre das Abelhas: 62 milhões mortas por agrotóxicos na Bahia

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Em menos de um mês, em torno de 62 milhões de abelhas desapareceram das cidades de Ribeira do Pombal, Cipó e Nova Soure, localizadas na região conhecida como Território Nordeste II da Bahia. O motivo, de acordo com os resultados iniciais de exames laboratoriais feitos em duas amostras, foi o inseticida fipronil, apontado por pesquisadores como um dos mais letais para abelhas.

De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), essas amostras coletadas estão sendo centralizadas pela Cooperativa dos Apicultores de Ribeira do Pombal (Cooarp) e enviadas ao Laboratório do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep) e ao Centro Tecnológico Agropecuária do Estado da Bahia (Cetab).

“As duas primeiras amostras enviadas já foram analisadas e bateu o veneno que suspeitávamos. É um tipo de inseticida usado para formigas”, explicou José Carlos Santos da Fonseca, o Zé Carlos, presidente da Cooarp. Foi a cooperativa que percebeu que algo estava estranho na região quando não parava de surgir relatos de apicultores que tiveram seus enxames dizimados.

“No dia 19 de junho de 2023, compareceu a primeira apicultora, moradora da Fazenda Caruara, informando a morte de abelhas em suas colmeias. Ao longo dos dias, fomos recebendo diariamente as mesmas queixas de diversos apicultores”, dizia trecho do comunicado feito pela Cooarp à Câmara Municipal de Ribeira do Pombal. Até esta quarta-feira (12), foram contabilizadas 780 colmeias perdidas de 28 apicultores, sendo oito de Nova Soure, três de Cipó e os demais de Ribeira do Pombal.

Professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e uma das únicas taxonomistas de abelhas no Brasil, Favízia de Oliveira explicou que o uso do fipronil na região, provavelmente, não seguiu as normas estabelecidas. “O fipronil é permitido na modalidade foliar para soja, algodão e cana de açúcar, o que não é plantado naquele lugar. Pelo que apurei, usaram em pastagem, o que já está errado, não está seguindo a norma do produto”, disse.

O presidente da Cooarp afirmou que, além da produção de mel, a cidade de Ribeira do Pombal era conhecida pela produção de feijão e milho. “Atualmente, quem ganhou espaço foi a pecuária, com a criação de boi e vaca, e o sistema novo de milho, o transgênico. O antigo não fazia mal as abelhas. Esse faz, pois precisa do agrotóxico na produção”, afirmou.
Para o apicultor Marcelo Silva, que também é vereador em Ribeira do Pombal e presidente do Sindicato dos Agricultores Familiares da cidade (Safer-Pombal), a suspeita é que esses agrotóxicos foram pulverizados em grandes propriedades da região. Ele, felizmente, não teve sua produção atingida. “A gente suspeita que foi usado um produto que não poderia ser usado da forma como foi. O vento carregou e o prejuízo foi grande, se espalhou na região. Eles não entendem que tem que aplicar da forma correta, no horário certo, a quantidade certa. Qualquer erro, causa problemas enormes”, lamentou.

Técnico em agropecuária, o vereador também lamentou o prejuízo ambiental da mortandade de abelhas na região. “Se o veneno chegou por vento, atingiu também as pessoas. Se matou as abelhas, matou outros insetos igualmente importantes na biodiversidade do semiárido. Tem ainda a preocupação com os resíduos que podem ter ficado no mel e ele é todo exportado. Se lá fora do país bloquearem a entrada do nosso mel por causa disso, a gente faz como? Nós não temos muito consumo interno, é muito baixo. Praticamente, 80% do mel produzido aqui é exportado”, disse.

Para Favízia de Oliveira, o perigo maior não está no mel exportado e sim no consumido internamente. “O mel exportado passa por teste e, se apresentar fipronil, ele não será vendido. O problema é o mel vendido no mercado interno, que pode ter resíduo e a gente consumir sem saber”, afirmou. A única forma de descobrir se o mel que é vendido no país está com agrotóxico ou não é através de uma análise laboratorial, segundo a pesquisadora. “O consumidor teria que pegar uma amostra e mandar para o laboratório fazer análise”, explicou.

Em comunicado emitido na última quarta-feira (5), a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) disse que essa situação de mortandade de abelhas causadas por agrotóxicos é algo que vem ocorrendo em outras regiões da Bahia, como a Costa do Descobrimento, Sisal, Velho Chico e Litoral Norte.

De acordo com a promotora Luciana Khoury, presidente do Fórum Baiano de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos, os produtores infratores também podem ser responsabilizados de forma cível e criminal. “Caracterizada que a morte ocorreu pelo uso de agrotóxico e caracterizada a fazenda onde foi aplicada, que normalmente é perto, é indispensável a responsabilização do produtor para reparação do dano da parte cível, como também responsabilização criminal”, disse.

Fonte: Correio
Crédito: Joaquim Rodrigues/Divulgação

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