MÍDIA PODRE
É incrível como a mídia podre manipula, descaradamente, a informação, um bem público que deveria ser tratado com responsabilidade, para tentar fazer a cabeça da população. Agora, espalha que o Ministério Público pediu a prisão de Lula. Não é nada disso. O MP, vergonhosamente partidarizado, mesmo sem apresentar nenhuma prova, pediu apenas a condenação do ex-presidente, o que não significa prendê-lo. Inclusive porque não tem autoridade para tanto. Vergonhoso.
E AÍ?
Já se passam mais de 15 dias do escândalo da mortadela, em que os irmãos Friboi, Joesley e Wesley Batista, deduraram meio mundo de parlamentares e governantes, mas até agora quase nada mudou. Aécio Neves (PSDB-MG) foi afastado do mandato de senador, mas permanece solto. O deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), flagrado pela PF com meio milhão na mala, só foi preso no fim de semana, e mesmo assim depois de muita pressão, inclusive internacional. Temer continua impunemente na presidência da República. E ainda há quem acredite que a Lava Jato visa combater a corrupção.
MESMO NAIPE
Flagrado pela Polícia Federal com meio milhão de reais, fruto de propina da Friboi, o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), ex- assessor da Presidência da República, preso no fim de semana, sempre fez par de ás com o procurador federal Deltan Dallagnol. Aquele, cuja obsessão em prender Lula o levou a convocar a imprensa para afirmar que não tem provas, mas tem convicções. Pelo menos até dias atrás, os dois eram vistos sempre juntinhos, em Curitiba (PR).
SEM PRUDÊNCIA
Atitudes como a do procurador federal Deltan Dallagnol, que apesar de não apresentar nenhuma prova, pede ao STF a condenação do ex-presidente Lula, no caso do triplex do Guarujá (SP), está desmoralizando o Ministério Público. É o que afirma o professor da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), Afrânio Silva Jardim, que já apoiou a Lava Jato. O MPF “perdeu a necessária prudência e o esperado equilíbrio”.
CLIMA PÉSSIMO
Como diz a sabedoria popular, a gente colhe aquilo que planta. Durante o UFC, sábado, no Rio, o ator Bruno Gagliasso e a mulher, Giovanna Ewbank, se retiraram da área vip em protesto contra a presença do deputado ultraconservador Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que tanto tem estimulado a intolerância. O ódio disseminado pela extrema direita, com o apoio da mídia, estabelece um clima de guerra no país.
Artigo / OPINIÃO
Só resta a política
Rogaciano Medeiros *
No livro V, dedicado exclusivamente à Justiça, da obra Ética a Nicômaco, que deveria ser leitura obrigatória para todo homem público, por aprofundar a discussão a respeito de noções intrínsecas ao ser humano, como virtude, ética, honra, moral, temperança, glória e outras, Aristóteles afirma que até mesmo os mais injustos, ímprobos e déspotas dos homens tentam parecer exatamente o contrário, perante os olhos da polis, da cidade, da sociedade.
Como seria bom, tantos séculos depois, saber a opinião do sábio filósofo grego sobre a conjuntura política brasileira, na qual os homens – como ele próprio disse, eternamente tentados a se inclinarem à injustiça e a maldade, na desesperada tentativa de fugirem do fracasso e encontrarem a felicidade – têm praticado e admitido, publicamente, excessos e injustiças para impor vontades e interesses. Inclusive, e principalmente, os agentes públicos. Sem a mínima vergonha.
Com certeza, seria interessante saber como o grande Aristóteles analisaria o estágio em que chegou a humanidade. Como a tal civilização pautada no mercado, no lucro, na reprodução obsessiva do capital, que ele não conviveu, alterou drasticamente as relações humanas, nas esferas pública e privada.
O que mete medo, e tanto preocupa, devido a vulnerabilidade da infantil democracia brasileira, é o fato de que os injustos, os déspotas e os ímprobos se apoderaram das instituições e não têm tido a menor inibição ou receio de usá-las para obter vantagens que não se limitam à política, pois visam também lucros bem generosos no plano econômico. Tudo combinado com a destruição da mínima rede de proteção, não apenas ao trabalhador, mas aos desafortunados, os infelizes nas loterias genética e social. É a “modernidade” do neoliberalismo.
Quando as instituições, fundamentais para o equilíbrio político e institucional da República, da Federação, da democracia, e que existem justamente para conter os excessos dos homens, passam a chancelar as injustiças, as excepcionalidades, os abusos, as improbidades e o arrepio à lei, aí o Estado entra em colapso total. É o caos generalizado. Pior ainda, o esfacelamento da unidade nacional. A nação se desintegra.
Em tempos de globalização, de hegemonia feroz do sistema financeiro e neoliberalismo fundamentalista, o desmonte do Estado só favorece o grande capital. Os que vendem a mão de obra nada ganham. Seja na visão contratualista de Thomas Hobbes ou na concepção de classe de Karl Marx, o Estado ainda é indispensável. Claro, pautado no respeito às leis, no regime democrático e dentro do sagrado princípio de que soberano é o povo. O que, evidentemente, não é o caso do Brasil de hoje, quando imperam o arbítrio e a exceção.
Por certo, se pudesse retornar, Aristóteles lembraria que a política é o motor da história. Assim, é possível concluir que a resistência popular é o caminho para reconstruir a democracia e resgatar a noção de nação. O Brasil tem jeito, sim, mas a saída é política.
· Rogaciano Medeiros é jornalista